DORES DO INDAIÁ, MELHOR LUGAR NÃO HÁ

"Falar de Dores é como encher as mãos de flores, adubando no coração e mente as boas lembranças, regando todos os dias os canteiros da emoção. 

Quantos amigos lá deixei, tantos outros que se foram e ainda hoje me restam fotos, fatos e saudades que cortam o peito.

Saudades gostosas do bingo na barraquinha na igreja São Sebastião. Baiano, grande amigo e vizinho era sempre o comunicador cantando as pedras do jogo como encantando com suas improvisações.

Como esquecer daquelas tardes, noites. Era incrível seu jeito simples e carinhoso como saudava a todos e a imaginação rica em saudar também pelo serviço de som os que estavam em casa.

Lembro com emoção seu salve: Um abraço para o Juquinha com seu pijama de bolinha, curtindo o resto deste dia lindo. Abraços em toda família! E continuava, agora vamos sortear esse cacho de banana oferecido por fulano de tal. Cartelas a venda!  Lembrar destes saudosos momentos, me faz pensar como esta cidade produz tanta riqueza de pessoas com a capacidade de nascer em nossas vidas e nunca serem esquecidas.

Saudades invadem pessoas, lugares, momentos, saudades da loja do Chico da Nova Aurora, da Calçada Alta, da loja de aviamentos do Sr. Joaozinho, do beco dos Retalhos. Ah! Meu coração até para, a Casa Lacerda. O Foto Leonam, o Bazar, o meu lugar preferido churrascaria Central.

Quanta gente que nunca esqueço, quantos lugares marcados nas lembranças.

No piscar dos olhos posso enxugar algumas lágrimas saudosas e ver com clareza o córrego Nossa Senhora, a praça Lacerda repleta de amigos e a pelada rolando sem hora para acabar. Chegávamos em casa e as desculpas sempre eram as mesmas, hoje a aula atrasou. A surra também era certeira.

Parar o Vado nas ruas e pergunta-lo: Qual o dia do meu nascimento? E ele com sua inteligência e toda memória responder não só o dia como o ano e quiçá a hora exata que você veio ao mundo. Tudo isso faz de mim um Dorense tão apaixonado que se não fosse rubro negro roxo, vestiria até a camisa do Zacarias.

O Osório Zica, grande sujeito e também Dorense apaixonado, comemorava até os gols nos treinos.

Sr. Miguel, andava o dia inteirinho colhendo alguma coisa do chão e levando para guardar em casa. Detalhe, gente boa como muitos, ele nunca usava sapatos. Meu primo Cacheiro, pessoa incrível, alegre e sempre amigo, sua alegria era sempre com uma pitada de sarcasmo.

Um amigo que sempre quero lembrar, chegava de mansinho como uma criança e ia embora deixando lições de homem, o Beijo. Você companheiro, nunca mudou do meu coração, será sempre meu vizinho.

Quando a coisa ficava triste e tínhamos que descer a rua da saudade, nossas tristezas e dores eram também a de um grande parceiro, O Zé Antônio, lidava bem com os vivos e mortos.

Sou grato por tudo e todos, tenho sempre a feliz certeza que sem ter vivido tudo isso minha vida não seria a mesma.

Saudades imensas dos desfiles de Sete de Setembro. A avenida Francisco Campos se transformava no mundo inteiro para todos presentes. Era o nosso planeta.

Padaria do Geraldo Celso, seus pães ainda cheiram na minha mesa a cada amanhecer e posso sentir o gosto inconfundível de somente poder ir lá para rever amigos e prosear.

Banda do Vandinho, a música que falava em cada coração nos mostrando e ensinando cultura toda vez que aparecia. 

Bailes do Indaiá Clube, quanta juventude, quantos jovens se apaixonaram e hoje são famílias felizes.

Amores de Dores são amores de amar para sempre.

Dizem que as mulheres de Dores são as mais belas, eu assino em baixo e nunca esqueço do sorriso e olhos sinceros da Regina, da alegria e toda simpatia da Genoveva, da beleza única da Raquel, dos encantos da Sandra, da força de duas irmãs, Valmira e Valdira, a coragem e sensualidade das filhas do Queto, do jeito moleque e alegre misturado com cabelos lindos e rostos maravilhosos das minhas primas e a doçura da minha irmã. Estas são só algumas de todas as muitas mulheres incríveis desta passarela chamada Dores.

Mulheres Dorenses, a soma de muitas atitudes e rara beleza.

Minha alegria em todas as noites era sentar em qualquer esquina, debaixo de qualquer poste que pouco ou nada clareava mais que até hoje me lembra a   magia de brincar de passar anel, roubar bandeira, nego fugido e tantas outras brincadeiras. Claro também contar histórias de assombração. Eram tantas histórias que até acredito serem em sua maioria verdades e poucas mentiras.

O João Besouro e sua banda, o Jarbinhas e seu violão, o Trio Indaiá. Ao som destes artistas, bebi muita cerveja e aguardente da boa, ou melhor, fui aliviado, alivio de Dores.

Por lá tínhamos sim, muitos limites, mas com respeito, imaginação e a coragem que todo Dorense tem, as noites não tinham fim. 

Dificuldades por lá também foram muitas. Porém, nossas armas em todos os momentos foi querer sempre o bem, ajudar, aprender. Tanto é que acreditamos no amor e apostamos na família.

O dia pode até oferecer batalhas, podemos estar cansados, mais Dorense de verdade, conhece, entende, tem força para viver a guerra.

Se na terra somos terrestres, em Dores somos mais do que gente. Temos a capacidade de amar pessoas, não somos indiferentes, vivemos o presente, respeitamos o passado e nunca deixamos de acreditar no futuro.

Temos um pouco do Pôr do Sol do Morro da Capelinha, a magia da Rua 15, a experiência de um time vencedor, a paisagem misteriosa da Praça dos Coqueiros, o canto dos Congadeiros, o abraço que nunca faltou, o aperto de mão que envolve o corpo inteiro, mentes somadas donas de tantas histórias.

Falamos tanto de tantos e tanta beleza porque também pela Rádio Cultura escutamos muito de muitos na sabedoria de Josué Chagas.

Erramos, aprendemos, somos gente de qualidade, somos Dorense."

Texto de Domam Oliveira. 

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